Filme “Entre Sonhos” de Joaquim Pavão estreia na RTP (Glam Magazine)
Depois da Argentina, Filme “Entre Sonhos” premiado em Itália (3rd Assurd Film Festival)
Exclusive Interview with Joaquim Pavão (Madrid Film Festival)
Entre Sonhos (FilminLatino)
Dreams (ENE)
Entre Sonhos (curta metragem)
O Projeto SCULP
SCULP é uma obra cinematográfica de Joaquim Pavão criada em torno das esculturas do acervo do Museu Internacional de Escultura Contemporânea – MIEC.
Em SCULP é construída uma narrativa distópica onde, num contexto de luta pela sobrevivência humana no planeta Terra, o livre arbítrio da maioria dos seres humanos é substituído pela “vontade correta” instituída por um pequeno grupo e comunicada a cada indivíduo por uma voz gerada num sistema algorítmico.
Um Projeto, dois objetos artísticos: SCULP_SONHOS | SCULP
Duas obras cinematográficas para fruir de modos distintos.
SCULP_SONHOS é o resultado de uma encomenda feita pelo MIEC, vocacionada para o público de museu; uma obra cinematográfica em exposição que pode ser vista integralmente, interrompida, interpolada ou iniciado a qualquer momento. Funcionará como um livro de poesia que se abre numa página qualquer e se lê trecho a trecho. Cada cena tem uma vida e uma força próprias e todas estão dispostas como células articuladas num universo distópico. Existem referências ao mundo ficcional que se propõe, pequenos diálogos e monólogos que sugerem mas não explicam. Aqui, mais importante do que a narrativa, é a sugestão, a inquietação com que se pretende provocar o espectador.
SCULP é uma longa-metragem a ser distribuída pelas salas de cinema nacionais e internacionais e outros canais de distribuição, com vista ao grande público. O filme narra a história dos habitantes de um sistema de sobrevivência que os humanos criam num contexto de catástrofe, onde o livre arbítrio é substituído pela universal “vontade correta”. Toda a cenografia do filme é composta pelas obras de acervo e os espaços do MIEC.
Produção
_Calendarização
2015-20 | Pré-produção do projeto SCULP.
2018 | Contratualização da obra SCULP_SONHOS com MIEC.
2019 | Rodagem, Edição e Pós-produção da obra SCULP_sonhos. Rodagem de partes da longa-metragem SCULP.
7/fevereiro/2020 | Estreia do filme SCULP_sonhos no MIEC.
2020-22 | Distribuição nacional e internacional da obra SCULP_SONHOS por museus e festivais de arte. Candidaturas a outros apoios para a finalização da longa-metragem SCULP.
Datas a definir | Conclusão, lançamento e distribuição da longa-metragem SCULP.
_Equipa
Joaquim Pavão – Realização | Prémios recentes, com o filme “Antes que a noite venha – falas de Antígona”: MMP’s Film Festival 2018; Vegas Movie Awards August 2019 (Best Indie Short, Best Editing); Falcon International Film Festival LONDON October 2018 (Best Director, Best Short Film); European Cinematography Awards Aug 2018 (Best Original Score); 21º Festival Internacional de Cinema de AVANCA (Best World Premier).
Óscar Flecha – Banda Sonora Original |Compositor, Professor e Guitarrista; Diretor do Festival Internacional de Guitarra de Santo Tirso.
Álvaro Moreira – Curadoria da obra SCULP_sonhos | Diretor do MIEC.
José Oliveira – Direção de Fotografia | Prémios recentes, com o filme “Antes que a noite venha – falas de Antígona”: AIP Best Cinematography (short) 2018; Vegas Movie Awards August 2019 (Best Cinematography); Falcon International Film Festival LONDON October 2018 (Best Cinematography); European Cinematography Awards Aug 2018 (Best Cinematography); Red Carpet Film Awards, NY (Best Cinematography).
Isabel Fernandes Pinto – Argumento e Interpretação | Prémios recentes, com o filme “Antes que a noite venha – falas de Antígona”: Vegas Movie Awards August 2019 (Best Actress); European Cinematography Awards Aug 2018 (Best Actress); Red Carpet Film Awards NY (Best Actress).
Tucha Martins – Figurinos | Prémios recentes, com o filme “Antes que a noite venha – falas de Antígona”: Vegas Movie Awards August 2019 (Best Costume Design).
Gil Moreira – Storyboard e Desenho Concetual | Arquiteto.
Tiago Vouga – Diretor de Produção | Produtor e Diretor de Cena.
António Costa Valente – Produtor Executivo | Diretor do Festival Internacional de Cinema de Avanca.
A equipa completa conta com mais de 120 pessoas, entre as quais atores (Catarina Gomes, Teresa Chaves, Rui Oliveira, Joel Sines, Rui Pena, Carlos Fragateiro; Maria Mata, Maria Avelãs), figurantes, técnicos, assistentes e alunos das turmas de confeção da MODATEX.
Processo Criativo
_Premissas para uma obra cinematográfica com sete esculturas / sete peças musicais
Mote: “Quem deixa de amar a forma original para amar o seu simulacro, ou imagem, a si próprio se odeia” (Iehudah Abrabanel, “Diálogos de Amor”)
Glosas: Nascer, Comer, Brincar, Construir, Contemplar, Procriar, Morrer.
A escultura é corpo, o corpo é escultura. O verbo não é movimento, o verbo é ação. O mundo que se cria através da ação é uma outra síntese. Elementos em amálgama formam uma outra síntese: Forma original.
_Para o filme-exposição SCULP_SONHOS
Talvez a escultura se defina pelos diálogos que estabelece com o envolvente. Por isso é necessário questionar, antes de mais, o que é a cidade e, com a cidade, o que são os montes, os “terrains vagues”, a construção dispersa, o território. Será toda esta amálgama pré-existente também conjunto escultórico? Serão os edifícios estátuas? Serão as ruas instalações? Serão as paisagens composições pictóricas? Serão as pessoas vestidas de determinada maneira, movendo-se de determinada maneira, usando determinados objetos, criações estéticas de si próprias? Se sim, as esculturas são apenas mais uma criação humana na cidade, iremos vê-las numa contracena improvisada, um jogo teatral sem protagonistas.
Se não, conferimos à escultura o protagonismo de obra de arte, em que a praça, o jardim ou a rua lhe são suporte e toda a restante envolvente lhe é cenário, tornando-a peça singular entre o anonimato coletivo. Dá vontade de parar o tempo. Olhar o edificado na contraluz que o torna vulto e desfaz as idiossincrasias das janelas e detalhes. Olhar a morfologia do gesto criativo contra o caos. A escultura enche o palco da cidade com o seu monólogo.
É então que surgem as pessoas, ouvintes. A peça interrompe o caminho quotidiano, atrapalha o passo, coloca questões, é impertinente, obriga a contornar.
Ocupar o espaço pressupõe alterações no tempo e, para que esta evidência não seja apenas um jogo de palavras, é preciso parar. Ter a coragem de interromper o percurso, fazer um desvio, atrasar a chegada. Dar à peça que monologa a escuta que a libertará de si própria. A escultura, como todos os seres, nasce para deixar de ser o que é. Por isso, a paragem já não é apenas uma vontade, é uma urgência. A obra que não é interpelada fica a gritar sozinha no meio da cidade. Só os corpos a salvam, em movimentos de contracena com cinco sentidos atentos, naquele diálogo intraduzível a que chamamos fruição.
Então a escultura passa a ser paisagem porque é cenário de um encontro. Passa a ser edifício e rua porque integra o esqueleto da cidade. Passa a ser gente porque dialoga. E é neste habitar que a peça existe, no tempo que lhe resta até à deterioração e ao olvido, viva porque iminentemente morta, forte porque perecível; afinal, é um ser de passagem como nós.
_ Sinopse para o projeto do Filme SCULP
Algures no futuro, a espécie humana está à beira da extinção, devido ao desenvolvimento de bactérias multi-resistentes, às alterações climáticas e a conflitos armados entre nações. Como recurso de sobrevivência, a tecnologia torna-se endémica à vida humana e tende a tomar o lugar do livre arbítrio. Toda a delimitação, controlo e posse de território é proibida. A ideia de nação é abolida em favor de um Estado totalitário e universal. Nesse Estado, um Sistema gerido através de algoritmos determina a função, as opções e as ações de cada indivíduo, controlando toda a sua existência social com vista ao prolongamento da vida humana, à sua reprodução e à manutenção do seu domínio sobre o planeta Terra.
Embora os pensamentos e emoções sejam também induzidos e manipulados pelo Sistema Algorítmico, o conhecimento da mente e a evolução tecnológica ainda não permitem um controlo absoluto sobre essa dimensão do indivíduo. É aí, ainda, que reside uma centelha de liberdade.
Para controlar essa potencial imprevisibilidade, o Sistema mantém um controlo apertado sobre todos os indivíduos, classificando aqueles que colocam em causa as orientações algorítmicas como Instáveis. Esses são submetidos a uma estreita vigilância e a vários procedimentos de manipulação mental. Após esse tratamento, caso persistam nas dúvidas que colocam, são convidados a desligar pacificamente do Sistema.
Para prevenir qualquer tipo de união entre os indivíduos que possa potenciar futuras rebeliões, está em curso um processo de abolição das relações emocionais e sexuais. Todos os novos embriões humanos serão obtidos em laboratório e a sua gestação será totalmente feita fora de útero, em incubadora.
Bel é uma mulher escondida dentro da vitrine onde vive. Funcionária de nível médio-alto, trabalha no departamento de triagem dos Instáveis para a saída. A aparência não lhe importa, mas é na aparência que desenha o equilíbrio que lhe permite continuar a viver. Está, aparentemente, bem.
No passado, viveu vários tipos de violência e nunca sublimou esse sofrimento nem fez dele força criativa. Alojou-se dentro dela uma dor, um incómodo, uma voz que ela procura calar.
O Sistema foi inicialmente, para ela, um porto seguro. Ajudou a construí-lo como uma trabalhadora braçal que não quer conhecer o desenho inteiro da obra. Não lhe interessa a sua arquitetura porque, intimamente, receia as suas fragilidades. Prefere não pensar que o “teto” pode ruir, mente-se a si própria.
Porque o Sistema ainda não controla totalmente a complexidade emocional dos indivíduos, não foi possível anestesiar completamente as suas emoções e a sua capacidade de empatia para com os outros. Em grande parte, é dessa capacidade que advêm os sofrimentos do passado.
Assim, ainda que discretamente, ela vive em permanente contradição psicológica na função que desempenha. Foi também esse um dos objetivos para a sua colocação naquele lugar: de tanto exercer a indiferença pelo outro, haveria de ganhá-la para si. Porém, na vigilância de que foi alvo, foram detetadas várias contradições, dúvidas e inconsistências. Essa tentativa de manipulação aplicada a Bel tinha falhado.
É nesse contexto de profunda infelicidade e solidão que Bel encontra Spes. Ele vem ter com ela num momento que em que ela está só, para a informar de que será o seu novo colega e acertar alguns pormenores sobre o trabalho.
Sem que eles compreendam porquê, o Sistema tem um corte geral e as suas ligações ao CEO (Controlo E Ordem) estão inativas temporariamente. Ambos percecionam essa liberdade, o que despoleta neles a capacidade humana de empatia e as pulsões sexuais. Essa experiência desperta neles emoções que irão desencadear diferentes sentimentos.
Quando o corte do Sistema é resolvido e ambos voltam a ser controlados pelo CEO, Spes leva Bel, adormecida, para a sua habitação.
A partir dessa experiência, o inconsciente de Bel começa a revelar-se-lhe de forma mais forte e incisiva. Todas as noites ela tem sonhos violentos e estranhos, que envolvem a libertação das pulsões aprisionadas. Consciente, ela não quer aceitar esse tumulto dentro dela e procura continuar com o seu quotidiano normal, dizendo para si própria que esses sonhos são passageiros e tentando acreditar que o relacionamento com Spes foi também um sonho. Porém, ela está grávida e prepara-se para fazer um aborto. Todas essas contradições levam-na a uma espécie de loucura em que deixa de destrinçar a verdade da mentira. Só os sonhos são reais, como representações da sua verdade inconsciente.
Bel é incapaz de tomar uma decisão para a sua vida. Mais uma vez, deixa-se conduzir pelo Sistema. Thyr, seu superior, convence-a a desligar. Quando Bel sai, é a primeira vez que olha para si própria e precisa de ser honesta para consigo.
Spes é um funcionário do Sistema mandatado para vigiar e pôr à prova os funcionários assinalados pela demonstração de dúvidas acerca do paradigma vigente.
Foi criado e educado por um homem sábio, que lhe forneceu segurança e conhecimento. Possui um conhecimento profundo sobre a psicologia e o comportamento do ser humano, validado pela sua experiência. Ao contrário de Bel, Spes cumpre as suas funções tendo sempre em vista a arquitetura global do sistema, para a qual ele quer contribuir.
O processo de trabalho de Spes passa por se dirigir ao indivíduo vigiado e, numa conversa, confrontá-lo com as suas dúvidas. Normalmente, através de uma manipulação emocional com o sentimento de culpa, o isolamento e o enfraquecimento psicológico do indivíduo, este acaba por desejar a libertação e solicitar a sua saída do Sistema de forma pacífica.
Com Bel, todo o processo estava destinado a ser o habitual, mas a quebra momentânea do sistema e o relacionamento que ambos tiveram causa-lhe um profundo transtorno emocional. Ele descobre que existe uma capacidade humana negligenciada pelo Sistema que pode ser a chave para a prossecução da sobrevivência da espécie: a empatia.
Para estar com ela, Spes faz-se passar por Instável, mas, na entrevista, a comunicação entre ambos é completamente toldada pela emoção descontrolada.
Spes decide então dirigir-se ao seu superior, Thyr, para desta vez o confrontar a ele com a questão de quem controla o sistema algorítmico e, se ninguém assume esse controlo e este é totalmente tecnológico, em que é que nos estaremos a transformar. Thyr, preconizando e defendendo o paradigma vigente, que permitiu a abolição das guerras e a sobrevivência face às epidemias, nega a importância destas questões e qualquer via alternativa. Spes sai do escritório convencido de que a espécie humana não poderá sobreviver se não resgatar a sua capacidade de empatia. Está determinado a encontrar de novo Bel e iniciar um processo de mudança, dentro do próprio Sistema.
*Texto escrito ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990.
PROJETO SCULP – SONHOS
07 FEV 01 MAR