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Scultura – Santo Tirso ’96, 1996
Mauro Staccioli
Cimento e ferro
Ninguém melhor que o próprio artista para nos ajudar a re(posicionar) perante a sua proposta para os jardins de Santo Tirso: “Penso que a nossa relação com a natureza é uma parte fundamental da nossa relação com o mundo, com as coisas que nos cercam, e esta é uma razão pela qual eu procuro que a minha escultura implique pensar o ser e o estar, o viver, e a disponho no espaço duma maneira racional, lógica. Quando penso na filosofia penso na procura de pôr as coisas do mundo em ordem. Não sou nem filósofo, nem escritor, construo formas.”
Mauro Staccioli nasceu em Volterra, Itália, em 1937 e graduou-se na Escola de Arte da mesma cidade em 1954. O início da sua carreira artística está ligado ao ensino e às atividades política e intelectual: em 1960 mudou-se para a Sardenha para lecionar em Cagliari, fundando por essa altura o Gruppo di Iniziativa (Grupo de Iniciativa) juntamente com outros jovens artistas e intelectuais.
Depois de um período inicial onde trabalhou com desenho e gravura, no final dos anos 60 dedica-se à escultura, interessando-se pela relação entre a arte e a sociedade, desenvolvendo, desde então, uma prática escultórica caracterizada pela utilização de formas simples (o círculo, o arco, o anel, etc.). Apesar das similitudes com o vocabulário formal do minimalismo americano, Stacciolli sente apenas afinidade com Donald Judd, no qual aprecia a precisão do projeto e habilidade no domínio das tecnologias aplicadas à madeira e metal.
A coerência e simplicidade formal deste autor, no desenvolvimento de prismas geométricos, emergem da necessidade de desenvolver aquilo que chama de racional intuitivo. Neste sentido, procura construir volumes como se fossem cristais construídos. Nas palavras do autor: “A forma do cristal não tem pontos precisos de referência. Pode medir-se um triângulo mas um prisma é ilusório, escapa à medição. Uma dada superfície parece-nos inclinada para a direita, mas quando nos aproximamos verificamos que ela se move para baixo. Há sempre um elemento de surpresa nestas formas, mesmo que o aspeto da volumetria mantenha um certo equilíbrio”.
Nas origens da sua consciência cultural, encontrou ainda os signos simbólicos para as metáforas da sua poética e uma razão sensível para as suas criações. Staccioli sempre se negou ao artifício e praticou a estoica disciplina do pensar sobre o sentir, na consciência e prática de uma sensibilidade inteligente. São as estruturas arquetípicas culturais, essência do seu trabalho, que o distingue e afasta do minimalismo americano: no início, as formas prismáticas quadriláteras, cúbicas ou pontiagudas e, mais tarde, as formas triangulares, trapezoidais, circulares ou em arco, que ele usa como símbolos e nos conduzem no sentido do que mais profundo a história nos proporciona. Natureza e cultura estão sempre presentes no seu trabalho.