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Mira hacie dientro de ti, 1996
David Lamelas
Ferro e Mármore
Apesar de ter iniciado o seu percurso como escultor, ainda em Buenos Aires, a sua passagem pela Saint Martin´s School of Art, Londres, em 1968, irá aproximar a sua prática artística de uma metodologia mais conceptual, que envolveu a apropriação de algumas tecnologias associadas normalmente aos mass media, nomeadamente à televisão ou ao cinema. Começa então a trabalhar com meios como o filme, a fotografia, o vídeo e a instalação, desenvolvendo projetos que mostram uma aproximação muito pessoal às noções de tempo, espaço e linguagem, temas que serão uma constante na sua obra. Em 1976 muda-se para Los Angeles, EUA, continuando a desenvolver uma prática multidisciplinar que questiona os limites da temporalidade da arte e o potencial desta em criar processos alternativos de comunicação. Com um rigor conceptual mas também por vezes com um certo sentido de humor, Lamelas, procura compreender as especificidades de cada lugar para onde trabalha.
Em “Mira hacie dientro de ti”, o autor apresenta-nos uma estrutura em tudo semelhante a um habitáculo, desenhado pelas suas arestas elementares, que apenas delimitam um espaço, definindo situações de fronteira entre interior-exterior ou privado-público. Neste projeto, Lamelas experimenta um desejo lapidar que tem orientado o seu trabalho escultórico: produzir formas escultóricas sem qualquer volume físico. Assim, no encalço deste paradigma conceptual, o autor ativa o espaço vazio da estrutura arquitetónica atribuindo-lhe substância e fisicalidade pelo seu contorno, lançando, por sua vez, o convite ao espectador (pela presença da porta) a habitar um espaço muito mais simbólico e introspetivo do que concreto.