PADRÃO

RESIDÊNCIA ARTÍSTICA: DESLOCAÇÕES #01

24 MAR 21 ABR

Uma exposição que apresenta um lugar temporário de encontro entre a imaginação de um grupo de estudantes da Licenciatura de Artes Plásticas – Multimédia da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e o património arqueológico do MMAP/MIEC.

Em formato de residência artística, desenvolvida nos últimos dois meses, investigaram-se teórico e plasticamente noções de ocupação do território, transformação da paisagem, vestígios e  testemunhos imateriais dando origem a um corpo diversificado de projetos de natureza experimental que se partilham em diálogo com outros lastros ancestrais.

 

Outros achamentos.

Padrão, em toda a sua largura semântica, intitula uma exposição que apresenta um lugar temporário de encontro entre a imaginação de um grupo de estudantes da Licenciatura de Artes Plásticas – Multimédia da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e o património arqueológico do Museu Municipal Abade Pedrosa/Museu Internacional de Escultura Contemporânea.

A primeira edição da Residência Artística “Deslocações”, desenvolvida nos últimos dois meses,  teve como ambição investigar teórico e plasticamente noções de ocupação do território, transformação da paisagem, vestígios e  testemunhos imateriais para dar origem a um corpo diversificado de projetos de natureza experimental que se partilham em diálogo com outros lastros ancestrais.

Mudar de posição.

Residir provisoriamente num outro lugar implica uma suspensão das rotinas, dos hábitos de actuação e pensamento quotidianos. Obriga a um exercício de interrupção de um plano anterior para dar lugar a um novo espaço de relações, uma zona de contacto aberta ao outro, ao estranho, à imprevisibilidade. Perante uma nova situação torna-se imprescindível o desejo de renascer. Começar de novo.

O tempo ao alto.

O Monte Padrão afigurou-se, desde a primeira vez que o subimos, um acontecimento. Algo que se apresentou como desconhecido aguçando a nossa atenção e mobilizando um estado de percepção mais alargado ao ponto de permitir reparar, ao mais ínfimo detalhe, nas coisas que acontecem nas margens (quase no invisível). Este promontório com cerca de 450 metros acima da linha do mar foi lugar de ocupação estratégica ao longo de milhares de anos, desde os primeiros povoamentos castrejos, passando pelas construções romanas até ao presente. Nele encontramos testemunhos ancestrais cuja densidade nos reenvia para uma relação com o tempo que extravasa a instantaneidade e velocidade contemporânea. O tempo ganha espessura numa acumulação de sedimentos estratificada onde, em vez de se expandir numa trajectória horizontal, adquire profundidade vertical.

Um intervalo imaginante.

A presente exposição convida-nos a percorrer um lugar de encontro, um intervalo que podemos preencher com a nossa fantasia e imaginação, sobretudo aceitá-lo enquanto possibilidade de jogo, ironia ou até de transgressão. Os antigos quartos da hospedaria rica do Mosteiro de São Bento convertidos outrora em espaços dedicados à experiência e interpretação científica dos achados arqueológicos são agora contaminados pela presença de outros achamentos –  que não provêm da mão do arqueólogo mas da imaginação do artista.

Padrão assinala-se como marco mas também enquanto marca de uma presença tingida pela convivencialidade entre disciplinas que desde sempre se magnetizaram: a arte e a arqueologia.

Samuel Silva