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Sem Título, 1996
Ângelo de Sousa
Ferro
Ângelo de Sousa é autor de uma obra vasta e realizada em vários domínios que hoje o coloca entre os principais artistas portugueses do século XX, ou seja, um dos poucos capazes de se medir, de igual para igual, com alguns dos mais importantes artistas contemporâneos do panorama internacional.
Iniciando a sua prática artística pela pintura, ao longo da sua carreira foi incorporando outros meios como a escultura, o desenho, o filme ou a fotografia, através de uma aproximação sempre experimental e marcada por constantes abandonos e retornos, tanto nas técnicas como nos meios ou temas que explorou.
Apesar desta imensa e sempre surpreendente diversidade de trabalho, Ângelo, manteve uma constância surpreendente na sua capacidade de se renovar sem jamais trair o essencial da sua prática: a preferência pela abstração em detrimento da figura; a economia de meios, formas e cores; ou o uso da série como meio de experimentação de variações sobre um mesmo tema ou ideia inicial, como acontece com as suas esculturas de chapas metálicas ou de placas de metal dobradas e pintadas, dentro das quais se insere o projeto que Ângelo de Sousa realizou no contexto do 3º Simpósio de Escultura Internacional de Santo Tirso.
Nesta proposta, o autor recupera, numa outra escala e matéria, algumas experiências domésticas e espontâneas elaboradas nos anos 60 e 70 a partir de dobragens e recortes de pedaços de papel (muitas vezes recorrendo a papéis inusitados como papel de prata do interior dos maços de cigarros) explorando transposições do plano para formas parentes da escultura pela sua tridimensionalidade, ensaiando desenhos espaciais de grande fluidez e simplicidade.
Fazendo justiça à proverbial afirmação que diz que os materiais têm sempre razão, cada uma das peças de Ângelo de Sousa pressupõe sempre um conhecimento aprofundado das potencialidades plásticas dos materiais utilizados aliado a um espírito livre e incessante de experimentação entre a ideia, as formas e a matéria.