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Fragmentos, 1999
Nissim Merkado
Granito e ferro
A um cubo cego e maciço, formado por peças de granito de diferentes geometrias regulares, opõe-se um cilindro construído com grades que deixam ver no seu conteúdo fragmentos irregulares e desiguais da mesma pedra. Trata-se de contrapor duas imagens diferentes de um mundo fragmentado e diverso, expresso através de um repertório formal e material muito simples e contido, como se de uma fórmula matemática se tratasse.
Búlgaro de nacionalidade e a viver em Paris desde 1962, Nissim Merkado, apresenta-nos em Santo Tirso uma escultura baseada no conceito de fractal e na metáfora da memória, como fonte evidente do contraste entre o todo e a unidade (ou detalhe). A partir de um bloco de pedra granítica, considerado como a massa inicial, Merkado procede à sua fragmentação. Uma vez quebrada, a pedra inicial dá origem a uma estrutura complexa de números, representando cada uma um sinal de si própria no tempo. Nalguns fragmentos podemos encontrar inclusive indicações inscritas na superfície. Os fragmentos dispersos são, assim, enclausurados de forma desordenada na estrutura concebida para suportar informação espácio-temporal inerente a cada um.
Por conseguinte, o autor, lança-nos o desafio filosófico de pensar o fractal (conjunto geométrico ou objeto natural cujas partes têm a mesma estrutura – irregular e fragmentada – que o todo), numa alusão metafórica ao processo de construção e organização da memória.