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O Guardião da Pedra que dorme, 1999
Mark Brusse
Granito

Mark Brusse procura sempre aquilo que se lhe revela como fonte de inspiração e meio para a realização da sua arte, deslocando-se constantemente na exploração das diferenças que as culturas e os espaços lhe propiciam. O seu trabalho coloca-nos perante o enigma irónico da máquina sem função, o jogo que nos conduz a outra significação que não aquela dos nexos do real. Em Brusse, os significados encontram-se para lá do que nos parece identificado. A sua passagem por Nova lorque e por Berlim, o seu encontro com o músico e artista John Cage, com quem trabalhou a partir dos anos sessenta, antecipa já o seu interesse pelo Oriente que, nas últimas décadas, tem sido determinante para a sua iconologia. A descoberta da arte da cerâmica no Japão, onde trabalhou durante alguns meses, é também um momento de capital importância, bem como os trabalhos de fundição em bronze que desenvolve na Coreia do Sul, refletindo sempre sobre os dados que, das culturas locais, se projetaram no seu imaginário. Estas incidências refletem aspetos que se prendem com o caráter expressivo dos materiais. Por exemplo, a descoberta do papel hanji na Coreia do Sul, que ele cola sobre telas e sobre o qual usa pigmentos de cores quentes na construção de imagens com forte significação metafórica. Ou na renovação da sua escultura a partir do bronze, que se agrega a elementos de pedra em bruto, ou seixos incrustados, na descrição de uma outra realidade poética projetada sobre o nosso quotidiano. Contudo, encontramos sempre os sinais da sua formação e cultura holandesas, particularmente no tratamento dos materiais e no refinamento de certos pormenores que são afins da tradição artesanal do seu país natal. Nos últimos anos, Mark Brusse realizou esculturas públicas na Europa, na Ásia, na América e em África. Em todas elas encontramos a vontade de superar a própria obra e afirmar as significações de uma poética pessoal, recorrendo a diferentes materiais e a elementos narrativos que, articulados na espacialidade da obra e na cultura do lugar, suscitam no espectador processos de descoberta estética dos possíveis sentidos e significados.

“O guardião da pedra que dorme” é a sua proposta para Santo Tirso. Nesta escultura iminentemente figurativa, o artista insinua umas leves fendas na pedra granítica, que representam pálpebras descaídas e umas esquemáticas narinas, para transformar a pedra dura num ser flácido que necessita proteção no seu indolente sono. No entanto, a característica mais importante desta obra é o forte conteúdo irónico do macaco que vigia o sono desde a sua guarita. É o macaco sentinela, o protagonista da obra, não dando ouvidos ao barulho mundano que decorre na praça, vigia-nos desde a sua atalaia reclamando o silêncio num gesto pleno de ironia e humor.

 

O Guardião da Pedra que dorme - Mark Brusse - V Simpósio 1999

 

O Guardião da Pedra que dorme - Mark Brusse - V Simpósio 1999

 

O Guardião da Pedra que dorme - Mark Brusse - V Simpósio 1999

 

O Guardião da Pedra que dorme - Mark Brusse - V Simpósio 1999

 

O Guardião da Pedra que dorme - Mark Brusse - V Simpósio 1999

 

O Guardião da Pedra que dorme - Mark Brusse - V Simpósio 1999