A chegada a Paris em 1958 de Júlio Le Parc e o seu confronto com a cena artística europeia foi absolutamente determinante para este artista argentino. As suas primeiras experiências assumiram preferência pelo legado da abstração geométrica em reação ao contexto predominante da época – informalismo, action painting, abstração lírica. Dos trabalhos óticos de Vasarely aos textos de Mondrian passando por alguma da produção mais radical de Josef Albers (conhecido professor da Bauhaus e, mais tarde, do Black Mountain College) e pelas experiências construtivistas, sobretudo aquelas que desafiavam uma reflexão sobre o movimento e dinamismo.

Este interesse múltiplo pela desconstrução geométrica, pelo cinetismo e desorientações percetivas levou Le Parc, a partir de 1964, a integrar espelhos, luzes móveis projetadas e/ou refletidas que reconfiguravam o espaço e a sua perceção por parte do espectador. Assim, este autor, foi construindo, desde os finais dos anos 50, um corpo de trabalho que incidiu quase exclusivamente no domínio das relações entre a abstração geométrica mais radical e a arte cinética, organizando as diferentes fases do seu trabalho por uma metodologia sequencial, apostando em introduções sucessivas de pequenas variações que vão determinando o conjunto. Nada em Le Parc surge por impulso ou improviso.

Em Santo Tirso, este artista argentino, apresenta-nos um exemplar das suas experiências volumétricas para espaços públicos que intitulou – Esculturas-Torções. Composições iminentemente geométricas que se jogam na fronteira de opostos semânticos: equilíbrio-desequilíbrio; estático-dinâmico; ordem-entropia. No caso de “Ascensão”, formas esguias são contidas por uma sequência vertical de três cubos em aço inoxidável (material escolhido por se prestar às transformações e reflexos de luz) até se libertarem no topo, figurando uma espécie de ramos agitados pelo vento. Um movimento ascendente que parece partir das profundezas subterrâneas até conquistarem o céu e a liberdade de movimento.