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Feto, 1997
Josep Maria Camí
Granito
O discurso escultórico de JosepMaria, procura ativamente uma incursão nos mitos arcaicos e impregna-se de certos aspetos do primitivismo arquetípico. Acentuado ainda por matrizes arqueológicas e signos ancestrais formados por vestígios do mundo animal, de resíduos naturais, esqueletos e fósseis. Este fascínio quase mágico de Camí acerca-nos de uma iconografia poética repleta de nostalgia do passado.
A sua obra supõe uma luta para conciliar o repertório formal da natureza com os cânones da escultura atual, equilibrando uma tensão entre o biológico e orgânico com os imperativos técnicos e as “resistências” da matéria. Esta tensão adensa-se ainda mais com a sua problematização entre o mundo figurativo com referências naturalistas e o mundo abstrato informado pela geometria pura. Como qualquer obra de Camí, “Feto” não é exceção, admite sempre uma leitura orgânica de ritmos agressivos e desobedientes, mas também para vestígios ou fragmentos de objetos impregnados de aspereza e rugosidade textural.
“Feto” prolonga o gosto pela forma orgânica deste escultor catalão. Um cone ligeiramente torcido e alongado, constituído por quarto secções, lembra cornos de animais, trompetes de caça ou búzios. Em última instância rememora formas arcaicas da escultura, desenhando-se no interstício muito ténue entre a abstração radical e a figuração intensa e orgânica.