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Escada, 1997
José Pedro Croft
Ferro galvanizado
Como é que um gesto que acontece num curto de espaço de tempo pode durar milénios? Foi este fascínio pela possibilidade de perpetuação de um gesto sobre a matéria, este jogo paradoxal de tempos que aproximou José Pedro Croft à escultura, inicialmente sobre mármores assistindo João Cutileiro.
Com forte apetência pelas formas elementares e pela desconstrução de objetos e espaços, Croft mantém no seu trabalho uma consciência profunda pelas raízes ancestrais da escultura, naquilo que ela tem de relação simbólica com a morte (pela forma como presentifica ausências) e com a redefinição e (re)significação do espaço (caso, por exemplo, dos cromeleques e menires que trazem novos significados a territórios indiferenciados).
Desde os anos 80, década seminal na sua afirmação, este escultor formado em pintura pelas Escola de Belas Artes de Lisboa, tem produzido um corpo de trabalho pautado pelas composições abstratas, incorporando por vezes objetos de mobiliário fragmentados e em diálogo com formas geométricas simples ou em tensão com espelhos que contribuem para o desenho de novas espacialidades baseadas na desconstrução e no jogo de metáforas.
A sua escultura intitulada “Escada” relaciona-se intimamente com uma árvore. Uma sucessão de escadas trepam pelos ramos como que nos convidando a ativar, por momentos, um certo fascínio infantil de subir aos ramos das árvores. Mais que objetos no espaço, Croft recria a árvore como lugar em si, numa simbiose entre o natural e o artificial redefinindo as fronteiras e desafiando o espectador ao universo simbólico do sonho e da infância.
As metáforas surgem em catadupa quando nos relacionamos com a árvore-escultura que Pedro Croft nos propõe: escadas apontadas ao céu, o desejo de subir mais alto, a metáfora do crescer, mas também o risco da queda que alimenta o desejo da aventura.