“A casa não é onde o homem se fecha. É onde o Homem se abre para dentro”. É desta forma que o escritor – Mia Couto – nos fala a partir do seu entendimento da noção de casa em Carlos Nogueira, seu compatriota. A inventividade e engenho poético deste autor moçambicano movem-se entre o desenho, a pintura, a performance, a escultura e a arquitetura (em coautoria). Interessado nos fenómenos e materiais naturais, bem como, em temas e formas enraizadas em memórias e rituais arcaicos da cultura, desenvolve uma obra onde explora as relações entre construção e memória, entre o espaço arquitetónico e o espaço natural. Utilizando como materiais preferenciais a madeira, a pedra, o ferro ou o vidro, explora temas como a casa ou o caminho, convocando muitas vezes o espaço habitável e esbatendo as relações tradicionais entre interior e exterior.

A “Casa comprida com árvore dentro” apresenta-se como mais um momento especulativo das suas indagações sobre o espaço, sobre a casa e a sua relação com a natureza. Uma árvore que habita a casa. A árvore que se torna casa. Todas as metáforas possíveis parecem esbater as fronteiras entre o dentro e o fora. É o próprio Carlos Nogueira que adianta: “construir um espaço dentro e outro do outro lado / tão autónomos como complementares / e em que a ordem de aproximação a cada um deles / seja absolutamente arbitrária”.

A casa é também um refúgio e abrigo de onde podemos abrir portas e janelas para o mundo, porém, Nogueira revela-nos que esse mundo pode ser também uma imensa e profunda interioridade. Neste sentido, a casa, como obra, permite uma dupla construção: de uma intimidade, diferente em cada um, numa relação pessoal com a obra; de uma comunidade, que a obra também exige e forma na partilha comum da experiência lúdica singular. Por conseguinte, a intimidade não se encontra apenas dentro de casa, mas na rua: nela passamos pelos outros, mas principalmente por nós.