Composta por granito e bronze, a escultura de Zulmiro de Carvalho substancializa em uníssono as duas exigências básicas decorrentes de todo o processo evolutivo da escultura moderna: a essencialidade estrutural e a autenticidade existencial. Fervoroso adepto do rigor construtivo dos elementos modulares e da exploração plástica das texturas rochosas, Zulmiro começou o seu percurso na Escola de Belas Artes do Porto. Porém, foi com a sua estadia na escola londrina St. Martin´s School of Art (1971-73), beneficiando de ensinamentos provenientes de figuras tutelares da escultura minimalista como Phillip King, William Tucker, Anthony Caro,  onde este autor redefiniu a sua prática escultórica e afinou as suas inquietações plásticas e conceptuais. Tal aprendizagem torná-lo-ia o principal introdutor, entre nós, duma prática escultórica minimalista, caracterizada pelo recurso a sistemas formais modulares, recusa de pedestais e frequente impessoalidade na feitura consequente do abandono da manualidade artesanal em prol de produções de signo tecnológico, mobilizadoras de materiais industriais, com tratamento essencialmente dependente do rigor conceptual dos projetos.

Fiel ao rigor formal no apuramento plástico das formas, Zulmiro apresenta-nos uma escultura onde a robustez do maciço granítico dialoga com uma depurada interseção de um elemento metálico, assim como, evanescências texturais jogam intimamente com fendas luminosas. A escultura de Zulmiro de Carvalho é um convite tão subtil quanto discreto a um entendimento do espaço, a uma perceção das propriedades dos materiais e das ações que delas resultam, na adição das formas e dos volumes que nele se apresentam. Por conseguinte, a evidência escultórica em Zulmiro nunca acontece como um acidente no lugar, mas como uma aturada e cúmplice relação com o espaço envolvente.