Se as primeiras obras de Wang Keping foram marcadamente políticas e de reivindicação contra o regime chinês liderado por Mao, posteriormente viria a desenvolver um trabalho de cariz sensual, com bases figurativas e inspirado, sobretudo, nas formas do corpo humano. Usando a madeira como material de predileção, a sua obra desenvolve-se numa constante procura de simplificação e estilização formal, através de volumes maciços, de superfícies polidas e com desenho linear sinuoso.

As suas esculturas parecem referenciar obsessivamente (ou até eroticamente) formas antropomórficas, sobretudo femininas, evocando certas esculturas primitivas de tributo à fertilidade da mulher ou, mais recentemente, algumas das explorações de escultores modernistas, como por exemplo, Constantin Brancusi. Formas voluptuosas e sensuais com laivos de abstração lírica são invariantes que permanecem, quase como um lençol freático, em todo o trabalho deste escultor chinês.

O projeto “Duas faces” que apresenta no Parque da Rabada dá sequência a este repertório de trabalho, apresentando um elemento de metal, suportado por uma base de betão, onde é rasgado um desenho que remete ostensivamente para o corpo, deixando a ambiguidade da forma despertar no transeunte múltiplas possibilidades interpretativas.