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Eu espero, 1999
Fernanda Fragateiro
Aço inox
“Eu espero”. Estamos perante uma afirmação positiva que anuncia esperança de um futuro retorno. Uma insinuação amorosa, porque só se espera verdadeiramente a pessoa que se ama. Um jardim é um espaço afetivo, aprazível, de infinitos encontros e desencontros, onde o tempo se joga num outro plano, mais livre e emocional. Mesmo quando as estações do ano «fecham» os jardins, existe sempre a expectativa de futuras esperas. Por isso, os arbustos que nascem junto a este banco esperam também por nós. Fernanda Fragateiro cria, para o Jardim D. Maria II, uma espécie de mundo privado e particular onde a composição tem um valor simbólico e sentimental que aposta num universo ambíguo transformando este “banco” numa obra de arte.
Nos seus trabalhos, os objetos aparecem como um veículo para exprimir ideias, de forma que cada elemento se torna uma citação, entrelaçando um texto de múltiplas leituras onde aparecem referências culturais misturadas com sensações pessoais. Todos aqueles que enquanto esperam sintam a necessidade de se sentar, para acalmar as ânsias do desejo, poderão compreender sem qualquer explicação o sentido desta obra. Mas a finalidade da espera será a mesma para todas as pessoas? O que significa esperar para Fernanda Fragateiro?
A referência a uma fotografia do final do século XIX de Julia Margaret Cameron (fotógrafa inglesa pioneira na tipologia do retrato) que nos revela um retrato em grande plano da sua sobrinha, Rachel Gurney, com asas de anjo; a frieza do aço inoxidável do banco ou a sua posição afastada em relação ao caminho são “pistas” pessoais da autora que exigem uma espera diferente no exercício íntimo de interpretação desta obra singular.