“De onde viemos, quem somos, para onde vamos?” é esse o nome de uma muito conhecida tela do pintor Paul Gauguin realizada em 1897. Penso mais no seu título do que nela quando agora vos apresento sumariamente esta abordagem de Carla Rebelo ao acervo arqueológico do Museu Municipal Abade Pedrosa – Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso e às presenças arqueológicas remanescentes no concelho que se estendem do Paleolítico à Idade Contemporânea. E penso, sobretudo, como quando olhamos o seu trabalho percebemos como a ordem desta tripla interrogativa não é arbitrária.

Ele deixa ver como o seu interesse pelas matérias, o modo como elas se transformam em materiais e depois objetos não é casual, e em como essa atração assenta num interesse pelo processo cumulativo de saberes elaborado no tempo lento e longo da tradição, da sobreposição de culturas, na adaptação e metamorfose da memória coletiva, uma realidade muito mais dinâmica do que tantas vezes conseguimos perceber e que marca decisivamente um lugar e os seus diferentes tempos.

Carla Rebelo sabe que os objetos falam. Que falam dos seus modos de produção, de quem os produziu, para quem foram produzidos. E sabe que descobrir isso é encontrar, em cada tempo, uma construção económica, uma organização social, uma hierarquia política, fortemente enraizada nos processos históricos e suas contradições. É por isso, por essa delicadeza e argúcia, com que olha para o “De onde viemos?”, que um museu com esta profundidade histórica obriga a fazer, que a sua abordagem se torna intensamente contemporânea. Contemporânea não porque emana do presente, o que por si só não garante qualquer contemporaneidade, mas porque essa primeira pergunta é a chave para a resposta à segunda: a mui complexa inquirição sobre “quem somos”; e sobre a terceira, a mais dramática, mas também a mais esperançosa vontade de saber “para onde vamos?”

“De onde viemos, quem somos, para onde vamos?” é esse o nome de uma muito conhecida tela do pintor Paul Gauguin realizada em 1897. Penso mais no seu título do que nela quando agora vos apresento sumariamente esta abordagem de Carla Rebelo ao acervo arqueológico do Museu Municipal Abade Pedrosa – Museu Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso e às presenças arqueológicas remanescentes no concelho que se estendem do Paleolítico à Idade Contemporânea. E penso, sobretudo, como quando olhamos o seu trabalho percebemos como a ordem desta tripla interrogativa não é arbitrária.

Ele deixa ver como o seu interesse pelas matérias, o modo como elas se transformam em materiais e depois objetos não é casual, e em como essa atração assenta num interesse pelo processo cumulativo de saberes elaborado no tempo lento e longo da tradição, da sobreposição de culturas, na adaptação e metamorfose da memória coletiva, uma realidade muito mais dinâmica do que tantas vezes conseguimos perceber e que marca decisivamente um lugar e os seus diferentes tempos.

Carla Rebelo sabe que os objetos falam. Que falam dos seus modos de produção, de quem os produziu, para quem foram produzidos. E sabe que descobrir isso é encontrar, em cada tempo, uma construção económica, uma organização social, uma hierarquia política, fortemente enraizada nos processos históricos e suas contradições. É por isso, por essa delicadeza e argúcia, com que olha para o “De onde viemos?”, que um museu com esta profundidade histórica obriga a fazer, que a sua abordagem se torna intensamente contemporânea. Contemporânea não porque emana do presente, o que por si só não garante qualquer contemporaneidade, mas porque essa primeira pergunta é a chave para a resposta à segunda: a mui complexa inquirição sobre “quem somos”; e sobre a terceira, a mais dramática, mas também a mais esperançosa vontade de saber “para onde vamos?”

Celso Martins

Carla Rebelo é licenciada em Artes Plásticas – Escultura pela FBAUL (2000). Fez formação em Têxteis, Cenografia e Desenho. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian em 2010/11. Participou em residências artísticas em Portugal e também na Rússia (2013); Madrid (2012) e em Berlim (2011) e Istambul (2010) na sequência do projecto Viagem ao interior das cidades vividas.

Expõe coletivamente desde 1999. Das suas exposições individuais destacam-se: A Cidade das Tecedeiras, CAAA, Guimarães (2022); Geologia de um lugar, Galeria da Casa A. Molder, Lisboa (2022); Segundo o seu próprio tempo, Galeria Diferença, Lisboa (2020); Um momento que se repete continuamente, Galeria Águas Livres 8, Lisboa (2018); Paisagens Privadas, Galeria Diferença, Lisboa (2018); Um Pentágono, um Círculo, oito Livros, Biblioteca de São Lázaro, Lisboa (2017); Marca de Água, Museu do Dinheiro, Lisboa (2017); Becoming Water, Palácio Marquês de Pombal, Oeiras (2016); O destino seguia-nos o rastro como um louco com uma navalha na mão, Museu Nogueira da Silva, Braga (2015); Um movimento quase impercetível que tem a ver com o voo, Galeria Monumental, Lisboa (2014).

Está representada em coleções públicas e privadas das quais se destacam: Coleção de Arte Contemporânea do Estado Português; Coleção de Livros de Artista da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian; Centro Arte Contemporânea, Málaga; Luciano Benetton Imago Mundi Collection; Museu de História de Kronstadt, São Petersburgo, Rússia; Polish Art Foundation, Melbourne, Austrália; Coleção MG; Colecção Figueiredo Ribeiro.

CARLA REBELO

“PEDRA E FIO”

26 JUL 27 OUT