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Pedra Bulideira N.ºXXII, 1993
Carlos Barreira
Mármore, xisto e aço inox

A passagem por África em tenra idade, onde conviveu com o tio mecânico Augusto – que o ajudou a perceber, estudar e criar mecanismos que lhe serviam de brincadeira –  foi determinante no futuro deste virtuoso escultor nascido em Chaves em 1945. Anos mais tarde frequentou a Escola Artística Soares dos Reis onde preparou o seu ingresso na Escola Superior de Belas Artes do Porto para frequentar o curso de escultura. Além de escultor, foi professor (aposentado atualmente), designer, maquetista, cenógrafo e figurinista (Teatro Experimental do Porto).

Carlos Barreira, hoje figura incontornável da escultura contemporânea portuguesa, integrou o 2º Simpósio Internacional de Escultura em Santo Tirso onde realizou o projeto Pedra Bulideira N.ºXXII.

As bulideiras constituem o mais extenso corpo de trabalho deste escultor flaviense: vinte e quatro pedras, numeradas de II a XXV e produzidas entre 1985 (a Pedra II para um jardim de S. João da Madeira, hoje practicamente desaparecida) e 2006 (a Pedra XXV em Vinhais).  Este projeto, que atravessou mais de duas décadas, toma como referência um gigante penedo (a Pedra I) existente no maciço granítico da Serra do Brunheiro, em Chaves, região onde Barreira nasceu e passou a sua primeira infância antes de partir para Moçambique. Esta famosa “Pedra bolideira” (nome popular dado a um bloco em equilíbrio) é considerada monumento natural, tem forma irregular achatada com mais de 3 metros de altura por cerca de 10 metros de comprimento e largura, tendo a particularidade de pesando várias toneladas ser capaz de se mover, em movimento oscilatório, com apenas um simples toque.

A relação da obra de Barreira com o fenómeno natural que a inspirou, é mantida escrupulosamente pelo escultor: cada bulideira deve permanecer orientada para a pedra-mãe em Chaves. Por conseguinte, a escultura instalada nos jardins frontais ao Mosteiro de São Bento, não foge à regra obedecendo a este desígnio conceptual.

Ao escolher trabalhar com a matéria da escultura, Barreira nunca abdicou do movimento e cinetismo, aspeto crucial e transversal a todas as fases de uma produção artística com mais de quatro décadas. É precisamente utilizando o movimento, conseguido através de soluções construtivas elementares dispensando o recurso a mecanismos motorizados, que o autor explora a tensão entre a aparência de leveza e a evidência da massa. Segundo o próprio, esta série de bulideiras introduz na sua produção escultórica uma dimensão “lírico poética”, caracterizada pela clareza e rigor construtivo, pela serialidade registada na numeração de cada bulideira e pela vertente lúdica inerente ao próprio funcionamento das obras.

A sua dependência de coordenadas geográficas e afetivas garantem a estas obras de Carlos Barreira uma relação de especificidade com o seu lugar de implementação.

 

Pedra Bulideira nºXXII - Carlos Barreira - II Simpósio 1993

 

Pedra Bulideira nºXXII - Carlos Barreira - II Simpósio 1993

 

Pedra Bulideira nºXXII - Carlos Barreira - II Simpósio 1993

 

Pedra Bulideira nºXXII - Carlos Barreira - II Simpósio 1993

 

Pedra Bulideira nºXXII - Carlos Barreira - II Simpósio 1993

 

Pedra Bulideira nºXXII - Carlos Barreira - II Simpósio 1993